Vila do Conde: o triunfo da democracia

Vila do Conde: o triunfo da democracia

Por Pedro Bacelar de Vasconcelos, Deputado e Professor de Direito Constitucional

A emergência pandémica não veio apenas afetar a nossa saúde física e mental, a capacidade de resposta dos serviços de saúde, o trabalho e, claro, a economia!

Objeto de sucessivas renovações, a obrigação de confinamento perpetua-se por tempo indeterminado, altera as nossas perceções habituais da realidade e envenena as relações sociais inscrevendo a ausência e o medo no lugar da solidariedade e da confiança.

A hegemonia mediática da pandemia privilegia a vertente técnica e científica do problema, em prejuízo de uma perspetiva mais ampla e complexa que apenas se revelaria cabalmente no pluralismo e no contraditório político. Enfim, uma circunstância para a qual, subjetivamente, só encontro paralelo no exílio, felizmente breve, que vivi ainda nos tempos da ditadura.

Assim, estes reflexos de adaptação a uma realidade desconhecida e incerta, amplificada pelos meios de Comunicação Social, traduzem-se em mudanças culturais profundas que desestruturam a comunidade e desvalorizam o sentido da participação política, contribuindo, em última análise, para a degradação da própria democracia. A grave crise de representação democrática que hoje vivemos na Europa e no Mundo, é flagrante nas imagens terríveis da invasão do Parlamento americano por instigação do ainda presidente, Donald Trump!

Pelo contrário, no último fim de semana, em Vila do Conde, os valores democráticos triunfaram sobre a chantagem da pandemia. Numa iniciativa inédita de coragem e de exemplaridade cívica, os socialistas decidiram que a escolha do seu candidato a presidente da Câmara Municipal nas eleições autárquicas que se irão realizar no próximo outono não podia ficar confinada a um mero procedimento interno, administrativo, e que carecia da máxima transparência e oportunidades de participação para que não restassem dúvidas sobre o significado da sua indigitação.

Por isso, foi com especial gosto que aceitei o convite do presidente da Distrital do Porto do Partido Socialista para presidir à Comissão Eleitoral que acompanhou e validou as eleições primárias do PS de Vila do Conde… que merece calorosas felicitações pela iniciativa inédita da realização de eleições primárias para a escolha do seu candidato à presidência da Câmara.

Tempo para felicitar também os militantes e simpatizantes que se mobilizaram empenhadamente para o exercício exemplar de participação cívica em que se traduziu a realização das eleições primárias. Destaco, ainda, os 2378 cidadãos que, na atual situação de estado de emergência e com um tempo gelado, nos ofereceram tão forte inspiração. Parabéns, por fim, pela vitória inequívoca do candidato socialista – o professor Vítor Costa – que parte para as próximas eleições autárquicas com uma inequívoca legitimidade!

Artigo de Opinião publicado no Jornal de Notícias a 14 de janeiro de 2021

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