RTP de todo o Portugal

RTP de todo o Portugal

Por Eduardo Barroco de Melo, Deputado do PS na Assembleia da República

Soube-se recentemente que o Conselho de Administração (CA) da RTP pretende alienar dois terços do terreno do Centro de Produção do Norte (CPN), localizado em Vila Nova de Gaia.

O processo é conduzido com total opacidade e desconhecem-se as razões que o justificam, bem como o destino a dar ao lucro gerado.

Ao mesmo tempo, o CA mantém total e suspeito silêncio sobre qual é a sua estratégia para o CPN, sendo certo que um negócio imobiliário como o que está previsto obrigará à demolição do maior estúdio e afetará de modo irremediável a capacidade de produção da RTP a Norte.

O CPN foi e é essencial na produção de conteúdos de rádio e televisão, principalmente no Norte e Centro do país. Com apenas 15% dos trabalhadores da RTP, cobre metade do território nacional, gerando cerca de 40% da produção e 50% da audiência. É responsável pela existência e desenvolvimento da rede de produtores e criadores instalada no Norte do país, impossível sem o CPN. Contribui para o pluralismo territorial na divulgação da cultura e na informação da televisão pública.

Não esquecemos as consequências do desinvestimento no CPN e as tentativas do seu desmantelamento entre 2011 e 2015, durante o Governo PSD/CDS, com a concentração de produção em Lisboa. Até a Praça da Alegria deslocalizaram para a capital, com aumento de custos e perda significativa de público. Conhecemos os efeitos que a venda de terrenos no Lumiar teve na RTP, culminando no encerramento completo destas instalações por incapacidade de as expandir e modernizar. Seguindo este rumo, só os incautos poderão perspetivar um fim diferente para o CPN. Não o podemos permitir. A partir do Norte, e em nome de um país com maior coesão territorial, temos de lembrar a um CA travestido em promotor imobiliário que não deixaremos que a RTP deixe de ser a Rádio e Televisão de (todo o) Portugal.

Artigo de Opinião publicado no Jornal de Notícias a 29 de abril de 2020

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