Porto: um ano de maioria absoluta
Por Manuel Pizarro
Médico. Vereador do PS na Câmara Municipal do Porto
As últimas eleições autárquicas consagraram, no Porto, uma significativa alteração da governação local. Apesar da subida eleitoral do PS, a maior entre todos os concorrentes, Rui Moreira alcançou a maioria absoluta. Passado um ano, é altura de fazer um balanço.
Há, seguramente, aspetos positivos. Prossegue a prioridade atribuída no anterior mandato à cultura e vários projetos emblemáticos estão a ser concretizados, com destaque para o Bolhão, o Matadouro, a Gare Intermodal de Campanhã ou o Pavilhão Rosa Mota.
No entanto, terminado um ano de maioria absoluta, sobressaem três traços bastante negativos. Em primeiro lugar, assistimos a uma compressão da vida democrática. O encerramento arbitrário do quiosque em S. Lázaro, a perseguição a um cidadão que interpôs um processo judicial contra uma decisão da Câmara, as ameaças de queixa crime contra um antigo vereador, a substituição de uma técnica só porque o seu cônjuge escreveu um artigo denunciando os problemas da Cidade, são sinais preocupantes de uma conceção da vida pública incompatível com o apego à Liberdade que constitui um valor essencial do Porto.
Por outro lado, a Câmara tem demonstrado uma enorme incapacidade de lidar com problemas fundamentais do quotidiano. É o que acontece na mobilidade e, sobretudo, na limpeza urbana. Ao longo destes meses, a Câmara procurou negar o colapso do sistema de limpeza pública. Agora, perante o acumular de lixo, já diz que o problema vai ser resolvido “a partir de outubro”. Não teria sido mais produtivo ouvir desde logo as queixas dos cidadãos e tratar do assunto de forma expedita?
Finalmente, a Câmara revela-se incapaz de lidar com o maior problema estrutural do Porto, o acesso à habitação. O Município mantém a requalificação dos bairros e a tentativa de intervir nas ilhas, que herdou da governação socialista no pelouro. Mas, acreditando que o mercado vai resolver tudo, por um lado; e culpabilizando o governo, por outro, desperdiça a oportunidade de lançar uma nova política pública que permita aos cidadãos de todas as condições económicas e idades viver na Cidade.
Um ano depois, torna-se evidente a falta que o PS faz na governação autárquica. Continuaremos a lutar pelo Porto com o mandato de oposição que nos foi conferido pelos cidadãos.
Artigo publicado no Jornal de Notícias