Metro do Porto e o serviço público

Por João Paulo Correia

Sem rodeios, considero que a expansão da rede do metro foi anunciada sem surpresas, essencialmente por duas razões. Por um lado, a verba disponível para o efeito é de 290 milhões de euros. Por outro lado, o senhor ministro do Ambiente anunciou previamente que as escolhas iriam recair nos investimentos mais rentáveis – o prolongamento da linha amarela entre S. Ovídio e a Vila D’Este (Gaia) e uma nova linha entre a Casa da Música e a estação de S. Bento (Porto). Venceram Eduardo Vítor Rodrigues e Rui Moreira.

O projeto do metro do Porto não acaba por aqui. Terá certamente continuidade em futuras decisões governamentais e é nesse domínio que vale a pena fazer caminho.

Sabemos que há duas opiniões dominantes e igualmente concorrentes sobre a vocação do serviço público de transporte de passageiros, a que está sujeita a Metro do Porto. Muitos defendem que os investimentos devem obedecer unicamente ao critério da rentabilidade. Outros tantos, como eu, defendem que o serviço público só se justifica pelo equilíbrio das decisões, umas vezes atendendo ao critério da rentabilidade e outras vezes atendendo aos critérios da coesão social e territorial. Por isto lutamos com sucesso contra o desmantelamento do serviço público de transporte que o anterior governo procurou impor ao país. Aliás, quem invoca o pesado passivo financeiro da Metro do Porto para justificar que a partir de agora só há lugar a linhas rentáveis não pode ignorar que foi esse passivo que permitiu levar este meio de transporte a concelhos e localidades que ainda hoje não estariam servidos se tivesse imperado desde a primeira hora o critério da rentabilidade dos investimentos.

É aqui que se enquadra a extensão do metro à Trofa. Em 2002, o governo decidiu encerrar a ligação ferroviária entre a Trofa e a Trindade, de forma a avançar com a extensão do metro. Os trofenses nunca pediram o metro e muito menos pediram o encerramento da ligação ferroviária. Foi uma decisão unilateral da Metro do Porto que atingiu drasticamente os largos milhares de utentes da ligação ferroviária. Nem comboio nem metro durante 15 anos. As populações da Trofa foram enganadas. O Estado tem de ser uma pessoa de bem. Há que fazer justiça.

Esta luta tem feito parte dos compromissos eleitorais do PS Porto. Não é um compromisso rasgado. Está vivo. E por isso considero que a próxima fase tem mesmo de contemplar uma solução, seja ela o metro ou o metro-bus. Acima de tudo, tem de surgir uma solução.

 

Artigo publicado no jornal PÚBLICO, fevereiro 2017

 

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