Da Alemanha bom vento?
Por Luísa Salgueiro, presidente da Câmara Municipal de Matosinhos
Ao longo de quase dois meses, uma equipa de cerca de 300 negociadores conseguiu obter um acordo entre os três partidos que suportam o próximo Governo alemão.
Entre visões sociais, económicas e ideológicas – à primeira vista irreconciliáveis – foi possível obter um acordo de programa, claramente progressista, que aposta no aumento dos salários, na resposta à crise de habitação e na abordagem resoluta às transformações digital e climática.
À primeira vista, mesmo considerando a resistência à continuidade de mecanismos europeus como o PRR, o próximo chanceler alemão será claramente pró-europeu, com suporte da sua coligação de governo.
Entre nós continuamos a debater o entendimento entre partidos como uma espécie de fenómeno paranormal, focando a discussão mais nos problemas ou perigos desse entendimento do que na importância que as soluções de governo estáveis têm para o país.
Somos muito bons na busca de entendimentos à escala europeia e mesmo global. Só nas últimas semanas Matosinhos recebeu dois importantes encontros internacionais, a reunião ministerial intermédia da Agência Espacial Europeia (ESA) e o Fórum Europeu para Redução do Risco de Catástrofes.
Os 23 representantes de estados-membros da Agência Espacial Europeia (ESA) subscreveram o “Manifesto de Matosinhos”, uma declaração que suporta as ambições espaciais europeias, no quadro dos contextos sociais e climáticos que a Europa enfrenta. E 55 países debateram, em Matosinhos, a capacidade de resposta e novas abordagens comuns que permitam conter o risco de catástrofes.
Não é por acaso que tantos eventos desta relevância se realizam em Portugal. Temos fama merecida de sermos bons conciliadores e de sabermos promover o bem comum, mesmo perante as mais aparentemente insanáveis divergências.
A 30 de janeiro os portugueses vão escolher um novo Parlamento e a futura base de governo de Portugal. Tudo parece indicar, até o resultado das eleições internas no PSD, que os portugueses pretendem estabilidade e segurança para o próximo ciclo político. Se essa estabilidade vai nascer de uma maioria absoluta ou do entendimento entre partidos nenhum de nós pode antever.
O que parece ser claro é que a larga maioria (essa sim absoluta) de portuguesas e de portugueses não querem um ciclo de crises políticas e esperam maturidade democrática dos seus representantes eleitos.
A isto nos obriga a todos o interesse nacional e a capacidade de enfrentarmos os desafios comuns que temos pela frente.
Artigo de Opinião publicado no Jornal de Notícias a 30 de novembro 2021