Eleições Europeias e participação ativa

Eleições Europeias e participação ativa

Por Castro Fernandes, dirigente do PS

 

Num artigo que escrevi no jornal Entre Margens do passado 28 de fevereiro intitulado “Eleições Europeias e Legislativas:  Que impacto a nível local?” referi alguns aspetos das eleições do próximo domingo que aqui quero melhor explicitar. Relembro que um dos problemas que abordei foi o da alta taxa de abstencionismo que se verifica nas Eleições Europeias em Portugal e não só.

Consultados alguns números refira-se que num universo de 9,7 milhões de eleitores inscritos nos cadernos eleitorais, votaram nas Eleições Legislativas de 2015 aproximadamente 5,4 milhões de pessoas, que correspondem a uma taxa de participação de 55,9 por cento. Aqui abro um parêntesis para referir que os números globais de inscritos nos cadernos eleitorais não estão completamente corrigidos há muitos anos, pelo que as taxas de abstencionismo divulgadas ultrapassam as taxas de abstencionismo reais. Como se compreende que existam 9,7 milhões de eleitores quando a população estimada para Portugal seja de 10,3 milhões de eleitores, embora o número de eleitores inclua os portugueses emigrados?

Refira-se ainda que nas últimas Eleições Europeias de 2014 votaram aproximadamente 3,28 milhões de portugueses, o que corresponde a 33,8 por cento de votantes. Já agora, os números das Eleições Europeias de 2009 dizem-nos que votaram 36,8 por cento dos eleitores, o que significa que entre 2009 e 2014 votaram menos 278 mil eleitores.

O que podemos já concluir é que se em 2014 votaram 3,28 milhões de eleitores nas Europeias e nas Eleições Legislativas de 2015 votaram 5,4 milhões de eleitores, isso significa que nas Eleições Europeias votaram menos 2,12 milhões de eleitores, que é um número muito significativo entre estes dois importantes atos eleitorais. Menos 22 por cento de votantes!

Após as Eleições Europeias de 2014 a Direção Geral de Comunicação do Parlamento Europeu resolveu elaborar um estudo, baseado num inquérito europeu alargado, para procurar concluir das razões do afastamento dos cidadãos nas Eleições Europeias, sendo que há alterações significativas entre vários países da União Europeia.

Sem procurar ser exaustivo o referido estudo chegou a algumas das seguintes conclusões referentes a 2014:

  • A taxa média de abstencionismo ao nível da União Europeia foi de 57,5 por cento;
  • Um em cada cinco dos chamados não votantes decidiu abster-se no próprio dia da votação;
  • 24 por cento dos eleitores nunca votam;
  • 34 por cento dos chamados abstencionistas impulsivos decidiram não votar nos dias anteriores ou no próprio dia da votação.
  • Quanto às razões apresentadas para não votar foram registados os seguintes resultados:
  • 23 por cento revelaram falta de confiança na política em geral;
  • 19 por cento invocaram ausência de interesse na política;
  • 14 por cento invocaram “votar não tem consequência/votar não altera nada”;
  •  7 por cento invocaram o facto de não saberem muito sobre o Parlamento Europeu, União Europeia ou as Eleições Europeias.

Estes e outros resultados permitem-nos perceber muitas das razões do abstencionismo nas Europeias pelo que se justifica que cada vez mais a União Europeia, o Parlamento Europeu e os países membros desenvolvam esforços de informação e esclarecimento com vista à aproximação dos cidadãos europeus.

Interessantes são também outras conclusões que nos dizem que os estudantes e os desempregados são dos mais preocupados com a mobilização para as Eleições Europeias e para a Europa, embora os jovens entre os 18 e os 24 anos sejam aqueles que apresentam maior taxa de abstencionismo, apesar de encararem como positiva a União Europeia. Parecendo contraditório não o é! De referir também que entre as grandes preocupações para a motivação para o voto há a realçar o desemprego, o crescimento económico e a imigração.

Concluindo, faltando apenas três dias para as eleições sou defensor da participação ativa nas mesmas, independentemente da orientação política, por razões de cidadania de que nos dão bom exemplo os nórdicos que são os menos abstencionistas.

 

Artigo publicado no jornal Entre Margens, maio 2019

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