Manuel Pizarro desanca Dijsselbloem
“Não posso gastar todo o meu dinheiro em álcool e mulheres e continuar a pedir ajuda.” Foi com esta frase que ontem, 21 de março, o ministro das finanças holandês e presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, incendiou o debate político.
A lista de reações é extensa, apesar de dispersa em posts de redes sociais e em notícias avulsas na comunicação social. Tentámos, por isso, fazer uma recolha das reações dos socialistas portugueses que não se importariam de enviar Dijsselbloem numa viagem só de ida para a Holanda: António Costa, primeiro-ministro e secretário-geral do PS, Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros, Ana Catarina Mendes, secretária-geral adjunta do PS, Carlos César, líder parlamentar da bancada socialista, e Manuel Pizarro, presidente da Distrital do PS Porto.
António Costa:
“Numa Europa a sério, o senhor Dijsselbloem já estava demitido neste momento. Não é possível que quem tem uma visão xenófoba, racista e sexista possa exercer funções de presidência de um organismo como o Eurogrupo.”
“Espero que caia, está no governo a representar um partido que foi esmagado nas eleições da Holanda. Consideramos que a Europa não se faz com ‘Dijssebloems’. Faz-se com os que acreditam na igualdade, se respeitam uns aos outros.”
“O senhor Dijsselbloem deve desaparecer, mas pior que o sr. Djsselbloem temos de fazer desaparecer o racismo, o sexismo, que não são exclusivos do sr. Wilders [candidato da extrema-direita holandesa], que aparece como lobo, mas o pior são os lobos que de disfarçam de cordeiros.”
“Estamos perante muitas ameaças e a essas ameaças temos de responder com mais unidade europeia. Unidade não se constrói estigmatizando uns contra os outros mas, pelo contrário, com respeito e um esforço de grande unidade. Portugal não tem lições a receber do sr. Dijsselbloem em coisa nenhuma. Portugal cumpriu escrupulosamente todos os seus compromissos com a União Europeia”
“A Europa só será credível como projeto comum no dia em que o sr. Dijsselbloem deixe de ser presidente do Eurogrupo e haja um pedido de desculpas claro relativamente a todos os países e estes povos foram profundamente ofendidos por estas declarações.”
“A Europa não se faz com Dijsselbloems.”
Augusto Santos Silva:
“São declarações muito infelizes e, do ponto de vista português, absolutamente inaceitáveis.”
“Há, por um lado, o aspecto de uma graçola que usa termos que hoje já não são concebíveis, essa ideia de gente que anda a gastar dinheiro com vinho e mulheres é uma forma de expressão que, com toda a certeza, não é própria de um ministro das Finanças europeu.”
“Está manifesto que o senhor Djisselbloem não tem nenhumas condições para permanecer a frente do Eurogrupo.”
“Pelos vistos, o presidente do Eurogrupo continua passados estes anos todos sem compreender o que verdadeiramente se passou. O que se passou com países como Portugal, Espanha ou Irlanda não foi termos gasto dinheiro a mais. O que aconteceu foi que nós, como outros países vulneráveis, sofremos os efeitos negativos da maior crise mundial desde os tempos da grande depressão e as consequências da Europa e a sua união económica e monetária não estar suficientemente habilitada com os instrumentos que nos permitissem responder a todos aos choques que enfrentamos.”
Ana Catarina Mendes:
“[As declarações de Dijsselbloem] são ultrajantes e contrárias aos valores fundamentais do projeto europeu. Merecem uma forte e imediata condenação da nossa família política. As palavras utilizadas são ofensivas, mesmo xenófobas, e não podem ser toleradas por nenhum partido político europeu e especialmente pelo nosso Partido Socialista Europeu (PSE).”
“É tempo de a nossa família política reagir, condenando estas palavras vergonhosas e distanciar o PSE e todos os nossos partidos das opiniões do senhor Jeroen Dijsselbloem.”
“É agora evidente que alguém que partilha estas opiniões não reúne condições para exercer as funções de presidente do Eurogrupo. E o PSE deve retirar qualquer apoio político à sua candidatura.”
“Enquanto mulher e política em Portugal, as palavras de Dijsselbloem são abjetas mas são também o melhor exemplo das razões do resultado eleitoral do PvdA nas [últimas] eleições holandesas.”
Carlos César:
“[Dijsselbloem] É o tipo de criatura que não faz falta na União Europeia.”
“As declarações do presidente do Eurogrupo não são, no plano político, novidade. Surpreendem, apenas, nos domínios da grosseria e de uma arrogância pessoal com os tiques de um novo racismo.”
“Dijsselbloem foi sempre um político que apostou na divisão da União Europeia e que nunca revelou compreender as causas da crise que vivemos nos últimos anos e muito menos o valor e as finalidades de uma solidariedade europeia efetiva. O seu conservadorismo está ligado ao imobilismo que adoenta gravemente o projeto político, social e económico europeu, cuja dinâmica reformista tem sido perdida pela conduta atávica de políticos que, como ele, desonram os socialistas europeus.”
“Não só é inaceitável a sua continuidade à frente do Eurogrupo, à qual ainda se agarra de forma humilhante depois da sua derrota eleitoral, como o Partido Socialista Europeu deve, o mais depressa possível, tomar uma posição formal de repúdio pelas afirmações indignas que Dijsselbloem produziu. É o mínimo que o PSE pode fazer pois não deve conviver com considerações como as que foram feitas.”
Manuel Pizarro:
“Estas declarações evidenciam quão desqualificada é uma parte da tecnocracia que hoje comanda a Europa.”
“Um político de tão baixo nível não é digno de pertencer a uma instituição tão respeitável como é a família socialista europeia.”
“A única desculpa que Dijsselbloem pode usar, é estar ainda traumatizado com a derrota humilhante que lhe foi infligida pelos eleitores holandeses.”
Veja aqui a carta enviada pelo Partido Socialista Português ao Partido Socialista Europeu.