António Costa: “Ninguém substitui Mário Soares”

 

António Costa: “Ninguém substitui Mário Soares”

 

Notícia publicada no jornal Público do dia 24 de abril de 2017

Por Margarida Gomes

 

O Porto juntou-se este domingo para homenagear Mário Soares. Três meses após a sua morte, individualidades do PS, da cidade e da vida pública e política, familiares e amigos assistiram à homenagem, que fez transbordar o Teatro Municipal do Porto.

Todos, sem excepção, enalteceram a sua “imensa coragem até ao último fôlego”, a sua tenacidade e seu grande amor pela liberdade. O secretário-geral do PS, António Costa, que encerrou a sessão, declarou mesmo que “ninguém substituiu Mário Soares na história democrática”.

“Homens como Mário Soares fazem muita, muita falta. Temos que fazer do seu exemplo o caminho que ambicionamos para Portugal e para a Europa”, sugeriu Artur Santos Silva, presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, sublinhando que “Mário Soares é a personalidade mais marcante do nosso regime democrático”.

Ao longo de quase três horas, ouviu-se e falou-se da vida política do fundador do PS, que tinha “muitos amigos” no Porto, cidade que visitava com regularidade – quase todos os meses. A homenagem abriu com um comovente depoimento de Isabel Soares. A filha mais velha do antigo Presidente da República emocionou-se e chegou a emocionar a plateia ao falar do seu pai, elegendo-o como o seu herói e do seu irmão, João Soares, que não esteve presente.

“O olhar de uma filha é sempre um olhar que não é isento”, preveniu Isabel Soares ao subir ao palco para discursar perante uma plateia onde havia muitas caras conhecidas. Recordou as refeições em casa dos pais, partilhadas com amigos – políticos, escritores, pintores – e não esqueceu as “ausências forçadas” por razões políticas do seu progenitor, “no Aljube ou em Caxias”. Quando o pai estava preso, a casa ficava vazia, partilhou. “Eram os dias de chumbo da ditadura”. Isabel Soares recordou também que o pai sempre lhe ensinou a si e ao seu irmão que não podiam chorar à frente da polícia. “Nunca lhe ouvi um queixume ou uma palavra de desânimo”, apontou, parafraseando uma frase que o seu pai dizia com frequência: “Só é vencido quem desiste de luta”. “Era o lema que lhe estava colado à pele”, sustentou.

Isabel Soares aproveitou a homenagem para destacar a “mãe doce e tranquila” que teve, referindo que os seus pais “tinham a mesma dimensão”. “Quando a minha mãe partiu, o meu pai começou a morrer devagarinho”, afirmou, emocionada a filha mais velha de Mário Soares e Maria Barroso.

Um pouco emocionado, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, falou da sua relação com o fundador do PS, que “nunca deixou de dizer o que pensava”. “ [Mário Soares] personificou a liberdade”. Na ocasião, Rui Moreira falou da “dívida de gratidão” que tem para com o antigo Presidente da República, que se empenhou pelo seu pai, que esteve preso sem culpa formada.

Já Manuel Pizarro, líder da distrital do PS-Porto, que promoveu a homenagem, preferiu destacar a relação que o antigo secretário-geral do PS tinha com o Porto, onde contava com muitos amigos. E concluiu com esta ideia: “Precisamos da sua inspiração. Mário Soares haveria de gostar de nos ver aqui”.

Falando de Soares com enorme carinho, o presidente da Fundação Calouste Gulbenkian elogiou a personalidade do seu amigo, enaltecendo-lhe a ”excepcional visão política”, revelando que defendeu “um novo paradigma para a Europa e propôs uma Europa com velocidade diferente depois do alargamento à Europa de Leste”. “Combateu os nacionalismos populistas com novos ideais europeus, como também o fizeram Jacques Delors, Felipe González, Helmut Kohl”, recordou Santos Silva.

Ao cair do pano, António Costa subiu ao palco para dizer que Soares “esteve presente em todos os combates do seu tempo”. E questionou a plateia: “Há alguém insubstituível? Ninguém substitui Mário Soares na história democrática”.

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