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Iconografias

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Iconografias

Fotografia de Manuel Barbosa
Texto de Eduardo Leal

Uma cidade são pessoas. Passos que se cruzam, histórias que se confundem, palavras trocadas ou por dizer.

Uma cidade são memórias. Passados gravados em pedra, pelas ruas, pelas casas. Nestas casas que resistem à erosão dos dias, que acumulam cheiros, que se afirmam mais vivas à medida que o tempo lhes desbota a cor.

Passeio pelas ruas da cidade e questiono-me se poderíamos viver sem esta ou aquela mercearia, sem o café onde os nossos pais trocaram sorrisos e olhares, sem a farmácia ou a drogaria onde comprámos mercúrio-cromo ou água de colónia. Se era possível passar a borracha do progresso à pressa por este ou por aquele mercado, se poderíamos demolir cinemas e teatros sem morrer com eles.

A resposta chega clara e sem lugar para dúvidas ou incertezas: a cidade, quando a queremos viva, é o lugar de encontro entre passado e futuro. Se deixarmos morrer o primeiro ficaremos sem lugar para o segundo.


Manuel Barbosa. 58 anos. Olhar o mundo através da máquina fotográfica é paixão tornada vício. Como se ver o mundo através das lentes, espécie de buraco de fechadura, aumentasse o mistério, revelasse todos os segredos possíveis. Quando se observa o mundo assim, o mundo desnuda-se, revela-se. Acredita que a fotografia é um despertador de consciências. E vai dando corda ao vício, à procura do momento. Assassino do vulgar, guerrilheiro da utopia. Porque cada disparo que faz é um atentado à indiferença.